terça-feira, janeiro 31, 2006

1º Aniversário



Uma mulher gorda que queria perder peso, chegou ao médico e disse:
- Corte-me uma perna.


Gonçalo M. Tavares, Estética ( in O Senhor Brecht), Caminho, Lisboa, 2004,p.24.

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Vota

Concurso de Fotografia
PRA QUÊ CARA FEIA?
NA VIDA
NINGUÉM PAGA MEIA.



pariso
novayorquizo
moscoviteio
sem sair do bar
só não levanto e vou embora
porque tem países
que eu nem chego a madagascar


Paulo Leminski

sábado, janeiro 28, 2006

Amandar ou a falta que faz um cigarro - (a)variações às 3 da manhã


O vento é uma espécie de onda de lume sem asas; um mascarado do tempo, um louco, que asfixia a ventania, quando, porque narciso, se quer ver sozinho, diante do espelho de água, depois da tempestade.
O vento carece de segredos, porque os sussurra à brisa, quando, às sextas-feiras à noite a quer engatar para levar ao baile de Carnaval. Vestido a rigor, de peúgas vermelhas até ao joelho e chapéu à dandy, o vento, no seu sapato polido e gravata bem amarrada, dá ares de Shakespeare num To be or not to be, bem ritmado, mas mal decorado e mal pronunciado. Fanhoso, derruba as palavras, como se as cuspisse, julgando-se grande, porque é vento… e está disfarçado de Tempo. Mau Disfarce.mau tempo. minúsculo. azedo. chuvoso e frio. apanha-nos desprevenidos num ziguezaguear de guarda-chuvas e gabardines. Descarado, avarento, rude. Aparece derepente...por ele era Carnaval todo o ano.

Não passa de um mascarado do Tempo ou de Tempo. De ar ventoso, mal barbeado, como os sujeitos da baixa, de carteira debaixo dos braços e vozes sibilitantes, engatando as moças com frases tiradas dos almanaques à venda na “Roda da Sorte”, a tabacaria que dá dinheiro até à morte. Como sopra, meu Deus. Deselegante. Sorve a chuva e faz barulho como os tipos das cervejarias à beira da rua, com as meias brancas turcas a aparecer atrevidas na beira das calças, sorvem a "spita" ou como mastigam a asita de Pipi e se lambuzam com a cerveja.

O vento não tem nome. É António e mora numa casinha em São Roque. Tem uma mota de caixa e um capacete de pala verde e cor-de-laranja, comprado no "Jordão", antes da loja se tranformar em Restaurante. Ou então chama-se Maria Ivone e vende gravatas e boxers para os namorados que no dia 14 de Fevereiro vão receber cuecas aos corações. O vento chama-se qualquer coisa Silva e é português, mora em sítios todos e aos Domingos veste as calças Levis da Feira e os Ténis ( se em Lisboa); as sapatilhas ( se em Ponta Delgada) e é um tal galgar centros comerciais com a Bola debaixo do Braço e a mulher à vista de dois assobios: Onde vais, Judite, que eu não ganho para isso!

O vento é um bébé de berço. Um Martim. Um Tomás ou um Rodrigo se tiver agora uns dois ou três meses. Uma Inês. Uma Maria ou uma Sofia se for menina. Uma Vanessa. Uma Micaela ou uma Lissandra se agora tiver 6 anos. Um Miguel. Um António ou um Hugo se andar pelos 10 anos.
Sabe de cor os desenhos do Panda, os jogos todos das PS2 e por aí fora; as roupas novas da Barbie, as escovas de esticar cabelos...O vento é um mascarado do tempo. Já disse.

É um bailarino. De fato Branco e camisa Preta. Apologista do "Todos diferentes todos iguais"; eleitor. votante. Tem partido. É militante. Sabe dos seus direitos.

O vento é um monsieur de saxofone, um tocador de trombone, um menino que vende gelados no Rossio, um cão que ladra, uma tigela que rola no jardim e bate na tijoleira sem nos deixar pregar olho; um pescador; um blogger de blog em branco porque
opá não tenho ideias.

Um escritor de versos tristes e bóina. Um amador de Teatro de bochechas pintadas e dentes pretos; um dentista; um médico; um navegador. O vento tem qualquer coisa de ti, de mim, da gente.Um gesto, um feitio, um rebuliço, tocador de piano; às de espadas, produtor, ensaiador. O vento é um Don Juan. Quando ele chega com o seu passo doble pausado, o seu olhar caliente, o seu charme a derramar, eu ai sofro, sofro, sofro, mas não lhe dou atenção. O vento é tolo de vaidade.

O vento é cultural. Lê livros. Vai a Exposições. Cinemas. Teatros. Varre tudo, espreita tudo, cita este, cita aquele; escreve, dita, não copia. O vento não é plagiador. É artista. E é vê-lo declamar nas manhãs de nevoeiro. Nuvem a nuvem, mancha a mancha cada palavra um sinal de que é vento, vendaval, ventania, ventoso
a (in)ventar.

Faça chuva. Faça Sol. O vento é vento de Tempo mascarado. De fato vestido pronto para ensaiar, administrar a orquestra das Flores, das árvores, dos nossos cabelos que leva pelo ar. O vento é o frio que fica quando morremos daqui e nos abrimos à descoberta do céu, deixando espaços vagos no Livro do Destino, que como diz o cantor, às vezes tem erros de impressão.

O vento é leitor de jornais. Lê-os todos. Vê a Sic, a Tvi, a 2:, o canal 1; a RTP/A, a TVNET; ouve a RDP, a TSF; a Atlântida, a Horizonte, todas, tudo. Ler jornais é saber mais. Ele acredita. Vai à missa. Igreja adentro. Cabelos despenteados. Ouve a Palavra. Conhece-a. Deus por ti, seja louvado. Amen. Sabe Latim. Distingue. Latim de latino americano. Não se dá a gaffes dessas. Estuda. É atinado.

O vento é um mascarado do tempo. Este encosto na escrita.Esta vontade de dizer muitas coisas e, no fim, não dizer coisa nenhuma. Devotos. Às voltas. Os Votos. Revoltos. Pasmados. Atentos. Sedentos. Curiosos. Esse. Essa. Aquele. O outro. Sussuro. Vento. Mascaro-me de tempo e voo. Sou vento. Ando. Andarilho.
- A tua ilha fica em que andar?
Não sei. Não anda. Desanda. Tresanda. Amanda.
- Amanda? Mas isso é verbo?
Não. É nome. Amanda. Este Carnaval vou mascarar-me de Amanda!
Mas como?
Vou amandar-me como o vento…

Já são 4 da manhã. O vento continua "resaluto", soprando...inchado de orgulho, bate nas persianas, empurra a relva que está grande. O gato Canoa suspira. Não há noite que possa dormir descansado sem levar dois ou três açoites da Rosa que temos plantada ao pé da porta...
Uma chatice.
O vento é um mascarado.
Troça de mim. Faz-me num oito. Acaba comigo.
Embaraço. Desfaço o laço. Traço. Baço.
Não tenho aço.
Não caço. Não faço.

MOZART



Ouvir

sexta-feira, janeiro 27, 2006

yes!



Todas as linhas recuperadas.

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Neve no Pico


(Foto: Mónica Goulart)


Um homem pode amar uma pedra
uma pedra amada por um homem não é uma pedra
mas uma pedra amada por um homem

O amor não pode modificar uma pedra
uma pedra é um objecto duro e inanimado
uma pedra é uma pedra e pronto

Um homem pode amar o espaço sagrado que vai de um homem a uma pedra
uma pedra onde comece qualquer coisa ou acabe
onde pouse a cabeça por uma noite
ou sobre a qual edifique uma escada para o alto

Uma pedra é uma pedra
(não pode o amor modificá-la nem o ódio)

Mas se a um homem lhe der para amar uma pedra
não seja uma pedra e mais nada
mas uma pedra amada por um homem

Ame o homem a pedra
e pronto


Pedra Poema para Henry Moore, Emanuel Felix

Fantástico

Música

O caminho percorrido

O J. é meu colega de trabalho. Não tem ainda 40 anos, é casado, com dois filhos e, porque as suas responsabilidades lhe permitem trabalhar por turnos na fábrica, faz, tb, trabalhos de jardinagem nas horas livres e cansadas.
Hoje numa conversa de corredor ao coberto do barulho das máquinas, a propósito das reformas ofensivas de políticos, e de gente de confiança política, que passam por governos e pela banca, o J. chicoteou-me de volta à realidade com a história do seu pai com 69 anos e uma pensão de 42 contos (antigos), a sua mãe com 64 anos e sem direito a nada por nunca ter trabalhado, excepto, claro, o ter tomado conta de uma casa com 9 filhos, “todos machos”. Uma casa pobre dividida por um corredor, de um lado um quarto, onde dormiam os pais e do outro a cozinha de chão de terra batida, onde chegaram a dormir, num dos cantos, os 9 rapazes, às vezes 4 por cama de molas, “2 para lá, 2 para cá”.
O J. tem os dois filhos na escola, ajuda a mãe na compra dos remédios, tem uma casinha, um carro, vai ao hiper e conta os trocos até ao fim do mês, mas está a Km de distância da vida que teve quando cresceu na casa dos seus pais.
Ele ouve dizerem que no país está tudo mal, nos Açores está tudo mal, a democracia não funciona, a autonomia não funciona e ele concorda com quem diz tudo isso, encoraja quem protesta contra tudo isso, mas não acredita em nada disso pq ele conhece o caminho que percorreu desde que jantava uma sopa aguada 7 dias por semana e adormecia dividindo a cabeceira com as “patas” sujas dos irmão do “lado de lá”, debaixo de uma coberta húmida de passado e curta de futuro.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Chuva



Quanto vale uma gota de água...no meio disto tudo?!...

segunda-feira, janeiro 23, 2006

Como é que isto é possível…!!!

Ontem, por volta das 3 da manhã, a casa do meu irmão foi assaltada, em plena baixa da cidade, família na cama. O ladrão arrombou, partindo, a porta da rua.
Como é que isto é possível!!!??!!! O Cavaco não ganhou ontem as eleições?!?!?! Então?!? Se calhar eu percebi mal mas eu pensei que se ele ganhasse nada de mal voltaria a acontecer. Meu Deus! Apanhado a mentir logo na madrugada do dia seguinte, meu Deus!!!

P.S. Isto não é uma crítica encapuçada a todos os políticos que já ganharam eleições, nem a qualquer político que nunca ganhou uma eleição, nem sequer a ladrões de porta às 3 da manhã, e muito menos ao meu irmão. Aceito no entanto que seja interpretado como uma crítica a Deus, se Deus quiser.

P.P.S. Garanto que quando escrevi Deus não me referia nem ao Barata nem ao Pedro, o mesmo não posso garantir em relação a Cavaco Silva ou a Pacheco Pereira.

Olho de Peixe



(Fotografia AM)

sábado, janeiro 21, 2006

Desabafo




Perdi hoje milhares de linhas de escrita.
Volto quando recuperar...

sexta-feira, janeiro 20, 2006

Fósforo

"Se acendes um fósforo durante o dia
para ver,
significa que não há janelas nem electricidade
nem sequer sol.
Ou então significa que és louco."


Gonçalo M. Tavares, 1, Lisboa, Edit. Relógio D´Água, 2004.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

A minha homenagem a três mosqueteiros, todos diferentes, todos iguais ou o privilégio de testemunhar a certeza de um futuro presente.


Até posso estar errado. Não seria a primeira vez. Mas quero voltar à escrita blogosférica com uma homenagem aos três bloguistas que melhor escrevem e melhor desenvolvem os seus direitos e deveres de cidadania nestas virtuais assembleias regionais. Eles são, por tamanho e peso, o João Nuno Almeida e Sousa, o André Bradford e o Guilherme Marinho.

O João Nuno já eu conhecia há alguns anos e sempre lhe admirei as qualidades e defeitos. Foi, portanto, o que menos me surpreendeu. Tem na escrita, e penso que na vida, uma dependência queirosiana. Tudo o que não é perfeito lhe parece ridículo. Não passa no entanto de um lobinho mau que muito assopra, e destrói, as “casinhas” mal construídas por esses tantos porquinhos deste mundo, mas muito admira e respeita as construções que à sua frente descobre sólidas e firmemente construídas, mesmo que, lá de vez em quando, com blocos vermelhinhos.

O André, que conhecia mal e mal conhecia, parece, na sua escrita, e salvo a comparação, um elefante que consegue fazer um pino num cálice de vinho, e consegue mesmo deixar escapar um peido, sem a menor indicação de desequilibro, desperdício ou estilhaço, é de uma mastodôntica delicadeza, sem deixar de ser pão, pão, queijo, queijo, marmelada, marmelada, fiambre, fiambre, etc, etc, e um cigarrinho a seguir.

O Guilherme, é uma espécie marinha que eu não conheço de parte alguma, portanto em nada me surpreendeu, mas já muito admiro. Gentleman, na sua escrita, do género Phileas Fogg, parece uma raposa preparada, documentada e pronta para uma volta ao mundo em 80 dias, e eu, sem mesmo o conhecer e imaginando que, com um como ele, o poderíamos até fazer sem nunca levantar pé do que a Terceira tem de Açores e do que os Açores têm de Universal, segui-lo-ia com a confiança de um Jean Passepartout.

Nos três, mesmo, ou apesar de, não terem um programa de televisão, admiro o facto de escreverem no sentido universal do ser e não para se lerem a si próprios e para serem os primeiros a se aplaudirem, admiro a honestidade intelectual que transpira dos seus escritos e agradeço o respeito que demonstram para com quem se dá à leitura dos mesmos. Aprendamos.

Obrigado


(Clica na imagem para aumentar)

Leituras



“(…) Na verdade o relativismo sexual como princípio político é um logro. Homens e mulheres não constituem dois blocos separados. Por um lado, não se vota em função do sexo, mas dos interesses e da ideologia de cada um. Por outro, há muito menos diferenças entre um homem e uma mulher com o mesmo estatuto social e cultural que entre dois homens ou duas mulheres de meios diferentes. Contrariamente ao que se quis fazer crer, a diferença sexual é ínfima em comparação com a diferença social: a mãe desempregada com dois filhos não tem as mesmas prioridades que a mãe tecnocrata ou quadro de empresa. (…) A igualdade alimenta-se do igual, não do diferente. A paridade que apela para a igualdade na diferença é uma bomba de retardador. (…)”


Elisabeth Badinter, Caminho Errado, Edições Asa, 15ª edição, 2005.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

TORANJA




Teatro Micaelense
Dia 11 de Feveiro
21h30

terça-feira, janeiro 17, 2006

Adeus




Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


Eugénio de Andrade

sexta-feira, janeiro 13, 2006

PUB


Poema para o meu sol



Escurecer é
estar tão longe dos teus braços;
É ter horas vazias no relógio e não saber
Dos dias que vagueiam,
Perdidos em doze meses de calendário.
Escurecer é
Saber da cor dos teus olhos quando choram,
Adivinhar-lhes os rios e afluentes racionais,
E não poder fazer coisa nenhuma.
Escurecer é
Ouvir-te lá de longe, como um eco,
(Voar é, simplesmente uma mania,
um acto ilusório, nada mais.)
Não mais amanhecer em parte alguma.


Maria Amaro
9.12.1997

quinta-feira, janeiro 12, 2006

As coisas de que se lembram....



(recebido via email)

Evolução

O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro.
Mario Quintana - Caderno H

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Isto

Este post do Pedro lembrou-me isto


e mais isto


e mais isto


Como nunca é demais lembrarmo-nos do que somos e porque é que existimos ( e insistimos). Cá fica para memória futura!

terça-feira, janeiro 10, 2006

Poeminha do Contra



Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!


Mário Quintana

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Bicos Doces



Não gosto do olhar entreaberto dos desconfiados. Dos seus bicos doces e constipados que se passeiam aos Domingos, avenida fora, como se fossem reis, como se fossem lordes, como se fossem mais do que são, nos seus cachecóis de padrão escocês e esgares de (quasi-) espertos. Ouvi-los é deitar atenção fora; gastá-la numa renda de conversas, cujos meios e fins, transportam, em si mesmos, uma azia domingueira, em cuja palavrosa demência nos perdemos, se, por minutos, nos distraímos. Recomendo ouvidos atentos para quando passar por vós esta espécie de máscara de personagem de festim de terceira categoria, apressarmos o passo e irmos, logo, mais adiante.
É preciso fugir destes passageiros de bico caramelizado por meia dúzia de ideias gastas, mais meia dúzia de tiradas de algibeira, puxadas a ferro e fogo das lombadas dos livros que ostentam nas prateleiras das suas salas de laje e pele (a dos sofás), comprados nas promoções dos livros vendidos no porta à porta, que é como quem diz, por metro. Pague cinco, leve um: “ Como fazer os filhos felizes?”; ou então: Deixe de ter dificuldades na cozinha da sua casa; compre a Enciclopédia Luso-Brasileira e leve de presente uma faca multi - funções.Corta, raspa, tritura,( se quiser até mata!)Começou o ano novo há cerca de 10 dias. Foguetes e gritos trouxeram mais um ano à vida de todos nós. Atentemos à "secção dos desconfiados", enfiados nos casacos de plumagens sintéticas, fingindo-se reais aves, empertigando as cristas e levantando os bicos como se fossemos todos meios tolos e eles os únicos e autênticos seres vivos. Biologicamente regados por carreiras vitais para a solidificação dos seus custos de vida à medida das suas carteiras de doutores e doutoras em cujas ilustres cabeças dorme a químera dos sonhos e das fantasias.
Chega de demências intelectuais. Chega de figuras “garrettianas”, tiradas de cartolas imaginárias, às quais não pertencem coelhos, como na magia real dos mágicos, mas antes senhoras e senhores de dentes de ouro e nunca nada na manga.
Talvez seja tempo de começar a debulhar estas contas e passar da matemática dos sangues e oxigénios à ideia das pessoas.
Chega de contraditórios ofertados em gravatas, cuja fraqueza dos nós, se percebe à distância e não tem substância que chegue, sequer, para as oferendas.
Chega de tanta aparência. Já dá bastante.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Roubado Daqui

Your Birthdate: February 29

You have the mind of an artist, even if you haven't developed the talent yet.
Expressive and aware, you enjoy finding new ways to share your feelings.
You often feel like you don't fit in - especially in traditional environments.
You have big dreams. The problem is putting those dreams into action.

Your strength: Your vivid imagination

Your weakness: Fear of failure

Your power color: Coral

Your power symbol: Oval

Your power month: November


Foto de José Luís Mendes

Croniqueta ( ou Uma Coisa em Forma de Assim)

Pedindo emprestado o subtítulo desta Croniqueta, ao grande escritor português Alexandre O´Neill que, entre outras coisas, nos disse:“ (…) Convencidos da vida há-os afinal por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista.(…)” ( excerto de Os Convencidos da Vida, pp. 27, na obra Uma Coisa em Forma de Assim, do autor português atrás citado). Brilhante citação a meu ver e, na qual não me quero perder, mas, sim chamar a atenção de todos para essa espécie humana, cujas raízes profundas, se enterram nas lajes dos nossos caminhos, com a ambição devida, mas a pretensão remendada por disparates atrás de disparates emendados no papel que, diariamente, representam.
Para minha memória futura, já que a passada está bem guardada, não pelos guardiães das plumas de prata, mas por homens e mulheres dos Açores, que deram a sua cara e a sua força para construir a identidade desta Região (vindos da esquerda e da direita, note-se!), ficam os ares preocupados desses papagaios de pé de chumbo e anel na pata que abundam por aí. Umas espécies de manda-chuvas de quintal. Os mesmos de há muitos anos só que hoje com menos brilhantina nos cabelos. Os mesmos que encontro nos cafés, falando alto, gritando que o que têm “dá bastante”. Chega de tanta idiotice. Quando confrontados com ideias diferentes, fruto de um debate normal nas sociedades civilizadas, sentem-se acossados nos seus próprios quintais e é um tal revirar penas. Não aguentam discussões sem puxarem das suas cartilhas mal aprendidas, como autênticos autores de quadros mal pintados. Da história, sabem da sua. E a geografia, ao contrário do que escreveu Nemésio, é para eles o mapa da sua rua. No final, o que conta é a matemática na soma de cifrões dos seus ordenados.
Meu querido avô, homem de Santo Amaro, que vem sempre à baila, nas coisas que escrevo, contava-me uma história brilhante. Rezava assim: havia um homenzinho que nunca tinha saído da sua freguesia, um dia, por ocasião da visita dos seus parentes emigrados na América, foi até ao miradouro da Terra Alta. Chegados lá, o senhor avistou a Terceira e São Jorge. Parou. Suspirou e gritou: Como é grande o mundo!
A história é simples mas enorme. E eu lembro-me dela sempre que me apetece gritar que é tempo de recomendar aos manda-chuvas de quintal que vão até ao miradouro da Terra Alta e vejam o mundo…vai além das biqueiras dos seus sapatos. Garanto.

quarta-feira, janeiro 04, 2006

Galhofa

Benvinda sejas, Maria

Benvinda sejas
à grande casa solar
a este tempo finissecular
hoje é o teu dia de estreia
olha à volta tens a casa cheia
há estrelas e rios na plateia



Tudo isto é teu
aquém e além do horizonte
a brisa que afaga o amieiro
e a água na fonte
benvinda sejas, Maria
benvinda sejas, Maria

Por Ti as águias velam
no cimo dos montes
e a Lua rege
o orfeão das marés
à noite os poetas
decifram os lunários
para ver se conseguem
descobrir quem és

Tudo isto é teu
a Terra é tua serventia
mas vais ter de lutar
por ela e por Ti em cada dia
benvinda sejas, Maria
benvinda sejas, Maria


Rui Veloso/Carlos Tê

A Maria nasceu no dia 2 de Janeiro de 2006. Os meus parabéns ao pai Paulo, à mãe Carla e ao irmão Diogo.

segunda-feira, janeiro 02, 2006

2 de Janeiro


(Foto AM/ Espalamaca)

naufragamos em Terra
(sem pontuação de vencedores)
Desmantelamos os ossos como quando chegamos e rasgamos os laços
somos ( entre o divísivel e o partido) a parte que sobra aos braços
Há (hoje) mesmo assim qualquer coisa diferente nos gestos
parece que chegaste tarde (dizes)
Consinto

naufragamos em Terra nesta esfera redonda (redundância)
o poema é um pleonasmo, híperbole,
não lhe cabe a hermenêutica
nem a oferenda dos versos em desfiles de procissão de Espírito Santo
de rainhas de manto e homens como ases de espada
choras
naufragamos em terra

Aquela Terra distante toda virada para o mar
onde passamos os nossos anos
morremos cedo,
morremos secos,
naufragamos lá
com as canelas frias e os sacos dos afectos
personificados com beijos (juntos)

Naufragamos em Terra como Homens, como gente...
Tentamos truques, feitios, enchemos taças, brindamos.
Fomos ao mar, alagamos os ossos e as cartilagens
Porém,
Não pontuamos.
Metáforas.
Metamorfoses

Como as borboletas voámos.