sábado, junho 28, 2008

Recomendação de Leitura



Limpar o Pó

"Como se ontem e os dias antes de ontem
se tivessem desfeito sobre as prateleiras,

Como se pudéssemos escrever palavras
nas suas cinzas com as pontas dos dedos,

Como se bastasse soprar para vermos
as suas imagens de novo, numa nuvem."


Peixoto, José Luís, "Limpar o Pó", in Gaveta de Papéis, Lisboa, Quasi Edições, 2008, pp. 73.
Preço: 11,55 na Livraria O Gil, em Ponta Delgada.

sábado, junho 21, 2008

´Tá cada vez mió



O diálogo continua. Antes estava assim.
Agora está como demonstra a fotografia. Bem, eu, pessoalmente, entre a linguiça de Portalegre e a linguiça da Salsiçor, prefiro a da Salsiçor.

quinta-feira, junho 19, 2008

Croniqueta XLV ou o Fífia é um pinga amor (ou não é!) ou talvez seja...



imagem

O Fífia é um pinga amor. Uma espécie de Romeu dos novos tempos, menos melodramático, mas tão dengoso como um Don Juan ou outra espécie dessas que a literatura universal retrata da cabeça aos pés. Werther de Goethe ou Eurico de Alexandre Herculano não lhe chegam aos calcanhares e, mesmo que chegassem, ele logo se diria superior. E toda a gente ia acreditar (porque era o Fífia quem dizia). Tem lábia, mas não tem mais nada.
Em andamento lembra um lagarto, esquivando-se entre as pedras da calçada, veloz, pata atrás de pata, rápido para não perder a vez ou não ser encontrado. O Fífia gostava de se perder nas ruas, sumir-se na multidão, esquivando-se aos recados da mãe e às repreensões das tias. Mas, nunca consegue. E muitas vezes, quando pensa que é desta, acontece-lhe como aos lagartos, deixa atrás o rabo a mexer, que é como quem diz, fica como os gatos, escondido, mas com o rabo de fora. E mexendo-se, leva logo. As tias não lhe perdoam e a mãe não o defende.
O Fífia é um pinga amor? Sim. Talvez. Fracalhote, é certo, mas esforçado. Esmera-se. Fala de Dante, de Camões, Fernando Pessoa. Diz que é escritor, músico e que também pinta quadros, além da manta. Quase ninguém acredita. E acham que ele é tudo menos pinga amor. É que, para a maior parte das pessoas, os pinga amor, até têm graça. Mas o Fífia? O Fífia não tem graça nenhuma.
E depois ele chora, choraminga muito, fingindo-se triste e só, abandonado como um periquito enjaulado, a quem cortaram as asas, por motivos de força maior. Não há quem consiga aguentar. Agora diz que este Verão vai procurar uma noiva. Quer casar rapidamente. A idade não o perdoa e ele também diz que não perdoa a idade. E di-lo tão sério, que muitas vezes pensamos, que vai brigar com a idade. Será que pensa que a idade é uma jovem ou uma mulher mais velha? Desconheço. Talvez vá (ou vaia, como ele diz) aceitar casar com a idade ou outra coisa qualquer. Matar a sua idade? Dele tudo se espera. Os mais mirabolantes raciocínios, que às vezes parecem ter saído da cabeça de uma criança de menos de seis anos, são normais no Fífia, para quem A Divina Comédia, não é, nada mais, nada menos, senão um livro de anedotas sobre deuses. E todos os dias, faça chuva ou faça sol, lá está ele, sentado na esplanada da sua rua, contando às pobres marlenes, às desgraçadas marias e às tontas beatrizes, mais uma anedota sobre Deuses ou histórias sobre a sua triste vida, que nunca começa na mesma data nem nunca acaba com a mesma noiva. Em meia hora, desmancha todos os seus pressupostos noivados, enquanto vão entrando e saindo do café, todas as flores mais belas do mundo. Diz ele.
Nós acreditamos, se quisermos ou, por via das dúvidas, se nos importarmos com isso...

sábado, junho 14, 2008

Recomendação de Leitura



Mini contos de vários autores portugueses e brasileiros.
Foi lançado em 2007 pela editora Casa Verde.

De lá:
INIMIGO

"Um inimigo pega de estaca. Plantá-lo, pois, regá-lo e observar o rebentar das primeiras folhas. A seguir, a floração inicial. Cuidar dela com desvelo. Tonificar a planta, cortando as folhas ressequidas e amarelas. Dar-lhe o tempo necessário para crescer, até no caule os espinhos despontarem. Mais tarde, virão os primeiros frutos, prontos a debicar. De quando em vez ousar uma carícia, umas palavras doces. Zelar amorosamente pelo inimigo. Assim se aprende o valor ímpar da inimizade."
João Pedro Messeder página 30.

Este e todos os outros valem (muito) a pena, na minha opinião. Um livro levinho, pequenino e fácil de transportar. Enorme nas imagens, que (d)escrevem os autores. A ler. Custa 10 euros. Eu comprei o meu na Livraria Solmar, em Ponta Delgada.

sexta-feira, junho 13, 2008

quarta-feira, junho 11, 2008

Pequenas Coisas

"Falar do trigo e não dizer
o joio. Percorrer
em voo raso os campos
sem pousar
os pés no chão. Abrir
um fruto e sentir
no ar o cheiro
a alfazema. Pequenas coisas,
dirás, que nada
significam perante
esta outra, maior: dizer
o indizível. Ou esta:
entrar sem bússola
na floresta e não perder
o rumo. Ou essa outra, maior
que todas e cujo
nome por precaução
omites. Que é preciso,
às vezes,
não acordar o silêncio."

Depois de lê-lo aqui lembrei-me dele e deste seu belíssimo poema.
Refiro-me a Albano Martins, poeta português. Ontem, condecorado com a Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.

segunda-feira, junho 09, 2008

Sexto Andar



Uma canção passou no rádio
E quando o seu sentido
Se parecia apagar
Nos ponteiros do relógio
Encontrou num sexto andar
Alguém que julgou
Que era para si
Em particular
Que a canção estava a falar

E quando a canção morreu
Na frágil onda do ar
Ninguém soube o que ela deu
O que ninguém
estava lá para dar

Um sopro um calafrio
Raio de sol num refrão
Um nexo enchendo o vazio
Tudo isso veio
Numa simples canção

Uma canção passou no rádio
Habitou um sexto andar.

Clã

sexta-feira, junho 06, 2008

6 de Junho



"Vida intensa e breve, pensou a lebre, correndo sobre as ervas do mundo."

José Agostinho Baptista

quinta-feira, junho 05, 2008

quarta-feira, junho 04, 2008

terça-feira, junho 03, 2008

o amor não é cego

O amor tinha óculos. A amada, não.
Um dia o amor perdeu os óculos e a amada desapareceu.

domingo, junho 01, 2008

...



Ele há cada coincidência...

Dia Mundial da Criança




Um post dedicado ao Álvaro, ao Júlio, ao Roque, à Inês, à Mafalda, ao Rodrigo, ao Alcides e ao Carlos.