sexta-feira, julho 31, 2009

Autonomia

"A grande perdedora é a autonomia dos Açores, assim como o prestígio do Parlamento, mais uma vez ferido. Nomeadamente, alguns partidos que participaram no processo, mas que se apressaram agora a dizer que o derrotado era o PS"
Adelino Maltês, JN

quarta-feira, julho 29, 2009

Poema

"Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espectáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, julho 27, 2009

Maré cheia



Há muito tempo que não posto um poema por aqui. Tenho-me esquecido de poesia. E não pode ser. Alguém me dizia que não se deve esquecer a poesia. Tentarei. Por hoje, fica o poema - Face a Face de Joaquim Pessoa e uma fotografia - Santo Amaro em perspectiva.

"Entendamo-nos: falar de ti e dos teus olhos de garça enevoados seria talvez tão vulgar como enumerar as coisas simples e nisso não há qualquer desafio.
Existe apenas uma razão íntima, como a de quem não gosta de se repetir ou de estar de costas voltadas para o mar, amando o imprevisto como um sinal de alarme.

Também, falar de mim, poderia tornar-se perigoso, se me virasse para dentro, habitando a minha memória e não a memória de todos os meus dias.
Fariseu único de um Templo de Escadas Rolantes, quando vejo mudar a água em sangue e arregaçar as mangas para transformar uma seara em pão não deixando ao diabo esse trabalho de mostrar que a realidade não é o que é mas sempre o outro lado da indiferença.

E bato as esquinas, levando a pederneira com que se acendem os poemas que alimentam as primeiras esperanças, atravessando nas passagens de peões com a precaução da caça perseguida e a preocupação de me dar desinventando mágoas, repartindo alegrias como quem escreve um tratado de amizade, num país de vidro, onde a dor está mais escondida que os ovos da codorniz no coração da erva."

quinta-feira, julho 23, 2009

müz´ka

A ler

Entrevista a Gonçalo M. Tavares aqui por sugestão do GM

Excerto:
"(...) O grande conflito entre a casa e a floresta é o conflito entre linhas direitas e as linhas tortas, imprevisíveis, os percursos completamente instáveis que a natureza produz. Mais do que um diálogo é uma luta. Vê-se essa luta quando se constrói uma casa, mas também quando se abandona uma. Vê-se que rapidamente a natureza quer ocupar o espaço, e as árvores começam a infiltrar-se. É claramente um combate, e a arquitectura é uma das frentes desse combate.(...)"

"À Janela do Mundo"

Faces

A última semana de plenário ficou marcada pelos episódios tecnológicos que serviram de tormento e espaço mediático para a oposição em plenário. Os pudores subiram-se-lhes como aspirina em copo de água morna e lá saltitaram os senhores Deputados António Marinho e Artur Lima para a ribalta dos supostamente ofendidos na sua integridade. Nos jornais, o assunto quase que se apagou, tirando uma ou outra reportagem sobre a relação sociedade civil/twitter, mas na blogoesfera açoriana continuou; como aliás já tinha começado, ao mesmo tempo que o episódio do twitter; como se referiu e bem o líder do Grupo Parlamentar do PS/Açores, quando se defendeu do ataque do líder do Grupo Parlamentar do PSD. Bem, mas razões à parte, porque, até, tal parece não importar muito, o curioso mesmo é que um debate no twitter ou até mesmo no facebook, é sempre muito mais frontal, porque identificado, do que um debate na blogoesfera, onde a páginas tantas somos confrontados por anónimos, que não assinam por 1001 razões, reservando-se ao direito de, quando confrontados com essa falta de coragem se esconderem atrás de cassetes tão antigas como: “eu sou pela liberdade de expressão!”, “viva a censura” ou, então: “ não posso falar. O meu patrão se descobre, despede-me” e outras coisas tão ou mais engraçadas, que nos trazem à memória outras histórias menos contundentes, mas tão ou mais hilariantes. Acontece, porém, que os Açores, mesmo grandes, mesmo dispersos geograficamente por 9 ilhas, 19 concelhos e 156 freguesias são uma terra pequena, onde factos e histórias de vida se entrecruzam como laços na vida real e na blogoesfera, pelo que a cobardia de uns, não sendo, apenas, praticada nas redes da internet, é reconhecida a olho nú, em cada esquina, como sintomático “modus vivendi”…Ora bem, isto tudo para dizer que prefiro o twitter e o facebook à blogoesfera, embora nesta última também esteja, com o meu nome, a postar, sempre e quando me apetece; num blogue que partilho com outros 4 cidadãos perfeitamente identificados e onde moderamos comentários: trocando por miúdos, significa que não nos importamos de dar a outra face, mas gostamos de saber a quem a damos. É como quase tudo na vida. Por hoje fico-me por aqui, sendo certo que a partir deste artigo estou de férias neste espaço. Conto voltar em Setembro. Até lá boas férias.

Como sempre: Francisco Vale César. Aqui e em qualquer outro espaço, onde me encontrem.


quarta-feira, julho 22, 2009

terça-feira, julho 21, 2009

Na casa do PSD

…apresentou-se a lista dos candidatos à Assembleia da República e, surpresa das surpresas, quem encabeça a lista é o mesmo de há mais de 30 anos... Os restantes candidatos estão na casa há alguns anos. Outros, mesmo estando fora da casa, vão na lista. Há ainda deles e delas “na casa dos 50”; “na casa dos 30” e “na casa dos 20”. Só não se percebeu muito bem, porque é que ficaram fora da casa outros moradores. Talvez não estivessem em casa à hora da chamada ou, então foram deixados, propositadamente, fora de casa. Tudo faz crer que na casa deles, anda grande rebuliço. Lá diz o ditado que “em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”.
Verdade ou não, o facto é que na casa do PSD também se disse que “a Região Autónoma dos Açores tem razões para se orgulhar do trabalho proveitoso dos deputados açorianos do PSD no parlamento nacional” – Tal afirmação deixou no ar dúvidas, que mereciam ser esclarecidas, embora na casa, ninguém tenha falado delas, no dia da apresentação da lista. Orgulhar-se do quê? Da Revisão do Estatuto Político Administrativo dos Açores, que contou com a abstenção do PSD? Da Revisão da Lei das Finanças das Regiões Autónomas, que, pela primeira vez, fez uma diferenciação positiva em relação aos Açores e que mereceu o voto contra do PSD? Da Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, que o PSD também chumbou? De que é que na casa do PSD se acha que os açorianos se podem orgulhar? Do anúncio que o PSD já fez de que gostava de rever a lei das Finanças Regionais; do facto do PSD ter recorrido ao Tribunal Constitucional para impugnar normas do Estatuto Político Administrativo ou do facto do Presidente da República ter falado aos portugueses por causa destes açorianos maus, que iam dar cabo da unidade nacional?
Na casa do PSD também se acha que “ um futuro governo do PSD é bom para Portugal e melhor para os Açores”… Deve ser porque na casa do PSD já está arrumado o episódio, que levou Manuela Ferreira Leite a suspender a transferência de 20 milhões de euros para a reconstrução do parque habitacional do Faial e do Pico, por causa do sismo de 1998. É por estas e por outras, que cada vez se dá mais razão a um ex-morador da casa, quando em 2008, ele dizia que tinha o “coração dividido”. Talvez por isso tenha decidido abandoná-la em benefício do bowling. Na casa do PSD parece que ninguém deu por isso...e os que deram estão na casa sós e nem sempre presentes. Alguns dormem…outros é o que se vê…

domingo, julho 19, 2009

sábado, julho 18, 2009

Remédio D´alma

Em casa, na varanda, José Manuel dos Santos pintou uma prancha de mergulho. Mais dia menos dia, mergulha. Por enquanto anda a testar as asas que pintou nos ombros. Tem voado imenso. E nem o pai que está pintado na cadeira da cozinha acorda; já as tias de esferovite resmungam um pouco, quando há vento, enquanto a mãe está desde 1998, a dormir, em tons de verde, na parede da sala.
Adorava pintar a Dona Filomena, a Dona Marta e a Dona Manuela, mas quem lhe aparará a queda, quando saltar da varanda?
...

quinta-feira, julho 16, 2009

Agenda



Tenho pena, mas não poderei estar presente. Pedem-me que divulgue. Cá está...

"À Janela do Mundo"

Assim, o desinteresse é óbvio

Não é novidade nenhuma que as pessoas cada vez menos compreendem e apreciam a actividade política. A maioria não consegue perceber o que os políticos fazem, nem porque tomam determinadas atitudes sem sentido absolutamente nenhum. Se bem que acho que o exercício de cidadania no nosso país está muito longe do aceitável em qualquer outro país democrático, considero que a maior responsabilidade pelo descrédito da classe política está na própria classe política.

O exemplo do último plenário da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores foi, para mim, paradigmático. O clima de agressividade entre os diversos partidos, com assento parlamentar esteve ridiculamente exagerado; Em que a oposição procurou desesperadamente por um soundbite, que saísse em um minuto de telejornal, nem que para isso tivesse que recorrer, ao desrespeito pelas regras de funcionamento do plenário, ao insulto directo e pessoal e à mais hipócrita vitimização a que já assisti em dez anos de actividade política.

A certa altura, surgiu o caso “Twitter”. Dois Deputados insurgiram-se, mesmo muito indignados, pelo facto das suas posições durante o plenário terem sido comentadas, por outros Deputados, numa plataforma de comunicação com milhares de seguidores nos Açores. Dizia o líder do grupo parlamentar do PSD, António Marinho, que os Deputados estão “a ser pagos para discutir os assuntos cara a cara, e não para brincar” na internet, chegando ao ponto de afirmar “Dizer que o António Marinho insultou o líder do PS, é algo que se aceita aqui dentro, mas na Internet não admito que use o meu nome”.

Para além de a discussão me parecer profundamente ridícula, quando tivemos assuntos, esses sim, verdadeiramente interessantes para a vida das pessoas, como a questão dos navios ou do desemprego, julgo no mínimo estranho, estar preocupado com a internet quando temos Deputados que faltam a plenários inteiros para ficar a fazer campanha eleitoral autárquica em Angra do Heroísmo, por exemplo. Também acho estranho, que 35 anos depois do 25 de Abril e, na era da internet, ainda exista quem ache que a liberdade de expressão deve estar coarctada às quatro paredes do plenário.

Mas para mim, o pior que vejo na discussão do plenário sobre o “Twitter”é a total ausência de percepção de que esta plataforma tem proporcionado a possibilidade a centenas de jovens e menos jovens de se aproximarem da classe política, compreenderem as discussões e permitirem a nós, agentes políticos, percebermos, em tempo real, os efeitos e consequências das nossas atitudes. Faz-me lembrar a resistência do Parlamento inglês às primeiras transmissões televisivas por distraírem os Deputados do seu trabalho.

O caminho deve ser exactamente o contrário, abrirmo-nos mais e em mais plataformas aos nossos cidadãos. Afinal, é para isso que somos eleitos e que estamos cá.

Há dias assim...



(...)"

terça-feira, julho 14, 2009

Concelho Feliz


foto

Angra do Heroísmo está de parabéns. Primeiro encabeçou, em Março, a lista dos vinte concelhos mais felizes para se viver, analisados no estudo “Os Melhores Municípios para Viver”, levado a cabo pelo Instituto de Tecnologia Comportamental, em parceria com o Semanário Sol. Agora, o Observatório das Autarquias Familiarmente Responsáveis distinguiu Angra do Heroísmo, como sendo uma das 13 Câmaras Municipais, cujas políticas são mais familiarmente responsáveis. De acordo com aquele organismo, a selecção teve por base as políticas de família das autarquias em áreas de actuação como o apoio à maternidade e paternidade, apoio às famílias com necessidades especiais, serviços básicos, educação e formação, habitação, entre outras. Entendeu também aquele Observatório criar um quadro de referência com um conjunto de várias medidas em várias áreas de apoio à família, que poderá servir de base às outras autarquias para elaborarem o seu plano de acção. Eu, que não sou angrense, mas sou açoriana, fico muito contente com estas distinções. Entre outras coisas, estes títulos significam, para mim, que Angra do Heroísmo vai no bom caminho e que é, sem dúvida nenhuma, um concelho feliz. Entretanto, na Assembleia Legislativa dos Açores, o debate parlamentar da semana passada, além do Twitter (ler a propósito o artigo de MEC, ”É o fim do twitter”, no Público, de 12/07) trouxe outras novidades: “cestas básicas”, boas práticas que não se explicaram e o guia que, sem chapéu ou apito, deixou no ar qualquer coisa a ver com boca doce ou gelatina: água, pó e frigorifico: pronto num instante…Também se falou de interculturalidade, um tema que sendo “planetário”, como assumiu e bem um deputado do PSD (não escrevo aqui o nome porque tenho receio que ele se ofenda.) deu debate; ao contrário, por exemplo, de Cultura que, salve raríssimas excepções, não merece comentários na ALRAA, mas merece café e cigarros…Por fim, ainda se voltou aos barcos. Repetiu-se o gasto substantivo das “trapalhadas”; insistiu-se num tom, a puxar para o despeito e quis-se, querem sempre, não falar do tempo em que não houve transporte marítimo de passageiros, entre todas as ilhas dos Açores. Lembrei-me de evocar hoje a Espalamaca, no canal, toda “reviradinha”; ou lembrar outras estórias (assim mesmo com E sem Agá), sempre muito “sui generis”, como aquela da Autonomia, que era de monumento…Mas, os caracteres vão-se-me acabando…Volto ao tema um dia destes…Por ora, parabéns a Angra e sigamos, e vivos, não com o miúdo atrás, mas deitando mão às pombas brancas, que só se somem no chapéu do mágico. Na vida real são fáceis de apanhar e de distinguir entre os querubins e as nuvens de glória…

sexta-feira, julho 10, 2009

PARA CIMA, FAZ FAVOR


O debate no Parlamento açoriano tem declinado ao nível do vendedor de fruta com pregão de feira.
Amesquinha-se e personaliza-se uma discussão de dentro para dentro, sem qualquer vantagem regional e sem o mínimo interesse para o cidadão.
Compensa-se a falta de ideias e de visão sobre os Açores com o uso e abuso da acusação. Sustenta-se a querela no indivíduo, critica-se o termo e diz-se muito do comportamento ou melhor, da falta dele.
Na penúria de elevação e na pobreza de espírito de alguns deputados da ALRAA propõe-se a compra de um elevador de sentido único e com funcionário a preceito, a quem S. Exas. deverão pedir com bons modos:
Para cima, faz favor.

quinta-feira, julho 09, 2009

"À Janela do Mundo"

Vencer a crise

Vivemos tempos complicados. A maior crise económica internacional desde a Segunda Grande Guerra tem feito os seus estragos. Na Zona Euro, nos primeiros três meses deste ano, a economia decresceu 2,5%. Na União Europeia a 27, todos os países, com dados publicados, registaram evoluções negativas, com a excepção da Polónia, que cresceu 0,4%. A economia portuguesa decresceu 1,6%, (valor mais favorável do que a média europeia). Estes mesmos dados revelam, durante este período, que o consumo privado na Zona Euro recuou 0,5%, o investimento desceu 4,1%, as exportações recuaram 8,8% e as importações diminuíram 7,6%.

Penso que será óbvio, para qualquer pessoa, que qualquer economia no mundo, perante este cenário, encontrará muitas dificuldades em manter o nível de crescimento existente, antes da crise internacional. Em regiões com uma economia mais dependente do exterior, como a nossa, seria normal ser, porventura, mais afectada pela crise internacional. Seria normal, com o país em crise, e com os países nórdicos, a Inglaterra, a Alemanha e os Estados Unidos a afundarem-se na recessão, que os Açores vivessem em crise social, que mais não é do que desemprego em massa. “Felizmente, ainda não temos uma crise social”. Não sou eu que o digo, é a líder do PSD/Açores à comunicação social. “Os Açores e o seu Governo estão de parabéns pelo comportamento de estabilidade da sua economia (...)”. Também não sou eu que o digo, é o Presidente da Comissão executiva do Banco Espírito Santo, Ricardo Salgado.

Contudo, não acredito que não haja dificuldades na nossa terra. Certamente que as há e devemos estar atentos, porque estão em causa pessoas. O desemprego subiu, mas apesar de tudo é mais baixo do que a média da Madeira, do país e da União Europeia e muito mais baixo do que o valor registado quando o PS chegou ao Governo, quando não existia nenhuma crise internacional e era Secretária das Finanças a actual líder do PSD.

Este Governo foi rápido a agir. Lançou 13 medidas de apoio directo à defesa do emprego, criou várias linhas de crédito de apoios às empresas e à agricultura, reforçou os apoios sociais e os incentivos ao investimento privado, concebeu programas de apoio à habitação e aumentou o investimento público em mais de 20%.

Se é certo que são as contingências da crise internacional que afectam os Açores, também é certo que a nossa terra não poderá ultrapassar os seus problemas sem o fim da recessão internacional. Ao Governo dos Açores cabe minorar os efeitos da crise e preparar a economia para o momento da retoma internacional. Os bons resultados estão à vista.

Ei-la de volta



Este ano - ainda - não roda, nem toca música -, mas lá está plena de simbolismo (?), a côroa do Espírito de Santo, nas Portas da Cidade de Ponta Delgada...Mais palavras para quê?

poema 30

"é nos voos a pique que o nosso olhar mergulha naquilo que nos é essencial ao
respirar
e o medo surge como nada mais do que a coloração abstracta do ponto de
partida.

a opção de escolher ou renunciar ao medo encontra-se no simples acto de
olhar ou não para trás, e é no instante da certeza que nos manifestamos
heróis do nosso próprio tempo e nos quedamos entregues às sequências e
consequências de só nós o sabermos."


(Fragmentos, 2006)

quarta-feira, julho 08, 2009

Mariza & Concha Buika

13 autarquias distiguidas por serem "familiarmente responsáveis"

Angra do Heroísmo é uma das 13 autarquias distinguida pelo Observatório das Autarquias Familiarmente Responsáveis. A selecção teve por base as políticas de família das autarquias em nove áreas de actuação -- apoio à maternidade e paternidade, apoio às famílias com necessidades especiais, serviços básicos, educação e formação, habitação e urbanismo, transportes, cultura, desporto, lazer e tempo livre, cooperação, relações institucionais e participação social.
Parabéns a Angra. Público

terça-feira, julho 07, 2009

João & José

José escrevia homens e mulheres sentados. Sentados e incomodados com a presença dos outros. Sentados e muito calados. Sentados e muito direitos. Sentados com as pernas muito direitas e muito sentadas nas cadeiras estofadas. Sentados com casacos pendurados e cachecóis nos pescoços e luvas nas mãos. Sentados com muito frio. Sentados e de braços muito levantados, como se fossem manifestar-se calados, de olhos fechados e punhos cerrados. José escrevia assim. Já João, não. João escrevia asas e sabores. Noites pequenas e grandes. Estrelas cadentes, almofadas brilhantes, bocados de mares, barcos, algas, saudades. João era escritor. José “escrevivia”. Ainda não descobrira porque é que gostava tanto de brincar com as palavras e de, por isso, virá-las e revirá-las em cima das folhas brancas ou com linhas. Não escrevia em quadriculado, nem em guardanapos de papel, mas aqueles blocos pretos, que João lhe oferecia, sempre que ia visitá-lo, eram uma maravilha. José gostava de ver passar gente nas linhas do que escrevia, de ver os cabelos loiros das senhoras, que entre uma vírgula e um ponto se erguiam. Gostava de pensar que os homens e as mulheres calados e sentados nas linhas do que ia ditando ao papel podiam um dia cruzar-se com ele num corredor da mercearia, na missa ao domingo ou na rua principal da freguesia, onde pessoas caladas e sentadas esperavam, todos os dias, pela chegada do autocarro. José preferia descobrir pessoas fora de casa. João vivia quase dentro dos livros, mergulhava dentro das páginas procurando descobrir nos parágrafos e nas linhas que os compunham mais palavras mágicas para inventar. José gostava de se perder nos hipermercados. João de adormecer na cadeira da livraria e sonhar com escritores e com diálogos. José gostava de escrever contos. João gostava muito de poesia. Nenhum tinha livros publicados. João, porque não tinha paciência. José, porque não tinha coragem. João sabia de cor as datas de nascimento dos seus poetas preferidos. José não sabia nada de cor, a não ser o som do apito do carro da fruta, que passava todos os dias à sua porta, para lhe deixar bananas e peras. José gostava de metáforas. João de analepses. José tinha palavras preferidas. João tinha palavras odiadas. José gostava de subida, descalça, Neptuno e oftalmologista. João odiava arrecadação, escadote, tronco e passadeira. João não conduzia. José andava de bicicleta. João usava gravata em algumas ocasiões, José nunca usava gravata ou sapatos abotinados. João dançava, José pulava. João ria muito. José sorria.Pode ser que João goste desta crónica de hoje; já José, não vai achar piada nenhuma, mas conto com o Joaquim para convencê-los; com Maria Armanda para distraí-los e com a Maria Filomena para me contar tudo. Maria Armanda gosta de peixe frito. Maria Filomena de sumo de laranja.
Já Joaquim, só entra nesta história, a meu favor.

Cadê Verão ?!?


Foto Verão 08

09, um Verão que chegou sem Esti(l)o...

segunda-feira, julho 06, 2009

solim

A Utopia do possível

Maria João Pires vai declarar, uniteralmente, a sua independência.
O "pequeno" estado português fica mais "pequenino".

E nós quando?!?!?!

"Da Minha Esquina"

Um contributo

Uma sociedade economicamente sustentável necessita de ter obrigatoriamente um Estado moderno, equilibrado financeiramente, que providencie uma rede social para os mais carenciados, que promova a igualdade de oportunidades, mas que ao mesmo tempo seja impulsionador estratégico de investimento público e privado. Por outro lado, não há desenvolvimento económico sem um tecido empresarial competitivo, que crie riqueza e emprego, com capacidade para crescer e se regenerar todos os dias.

Temos hoje milhares de jovens a terminar a sua formação, que em breve incorporarão a crescente população activa nos Açores. Estes jovens, na sua totalidade, terão dificuldades, em ser absorvidos pelo nosso mercado de trabalho por diversos motivos. Em primeiro lugar pelo facto do sector público estar a aumentar a sua produtividade e a instalar uma política de rigor ao nível do controle das suas despesas, pelo que a margem para a contratualização de novos quadros será muito reduzida. Em segundo lugar, devido à crise económica internacional, o tecido empresarial açoriano tem sentido algumas dificuldades que obrigam, também a uma reestruturação que implicará, certamente, uma contenção de custos e de contratação de novos postos de trabalho.

Uma das soluções preconizadas pela Juventude Socialista tem a ver com o desenvolvimento da capacidade empreendedora da nossa população e pelo reforço dos programas existentes de apoio ao empreendedorismo. De forma a que os jovens criem o seu próprio emprego ou façam uma pequena empresa com sucesso.

As escolas devem ter neste campo um papel fundamental. A criação de uma cultura de aproveitamento de ideias novas e de saber lidar com risco devem ser incutidas nos adolescentes e crianças, para que as próximas gerações tenham melhores instrumentos para enfrentar a vida activa.

Ao nível dos instrumentos já existentes, como o Gabinete do Empreendedor e o Programa Empreende Jovem, para além do mérito e qualidade dos mesmos, penso que devem ser feitos pequenos ajustamentos para os adequar à actual conjuntura. Ao nível do Gabinete do Empreendedor deve ser feito o reforço da sua acção de promoção do empreendedorismo, nomeadamente, junto das escolas, escolas profissionais, base de dados de estudantes açorianos do universitário e politécnico, associações juvenis e câmaras de comércio. Deve ser criado também a figura do Gestor de Processo, cuja função é ser um desburocratizador e facilitador de todos os processos que estão inerentes à criação de uma empresa, desde a ideia inicial até ao negócio.

No programa Empreende Jovem, na minha opinião, devem continuar a ser feitos todos os esforços para desburocratizar e agilizar os processos de candidatura, sendo que devemos, por um lado, abrir os critérios de candidatura a jovens com outro tipo de qualificações que não sejam exclusivamente a formação profissional ou formação superior. Por outro lado, penso que devemos reflectir, se não devemos alargar o âmbito dos projectos apoiados, para mais áreas que se coadunem com a maioria da formação dos nossos jovens.

Numa altura de uma tão forte crise internacional não basta falar de desemprego para que ele desapareça. É preciso falar a verdade e ser sério nas propostas que fazemos. Não se pode pedir baixas de impostos e pedir que o Governo adjudique mais obras, seria intelectualmente desonesto. É preciso sim, imaginação e coragem. Foi isso que o PS e a JS teve e fez. Fica aqui o meu contributo.