terça-feira, setembro 28, 2010

segunda-feira, setembro 27, 2010

Um filme do desassossego

Este país não é para rapazes

Basta ligar uma televisão ou a rádio para perceber a balbúrdia que se passa no país. A total falta de confiança nas instituições internacionais e nacionais que analisam e divulgam indicadores económicos sobre o nosso país, associados à tremenda irresponsabilidade verbal do nosso Governo, oposição parlamentar e comunicação social pode deixar o nosso país à beira da catástrofe económica e social.

Uma das primeiras coisas que aprendi em Economia, é que os agentes económicos para poderem fazer uma escolha racional necessitam deter informação em qualidade ou em quantidade suficiente para o mercado verdadeiramente funcionar. Ora em Portugal reina, actualmente, um autêntico caos na gestão da informação económica. Não sabemos verdadeiramente, qual o nível dos prejuízos das empresas públicas, qual o nível de endividamento das autarquias e das suas empresas municipais e quais são as verdadeiras necessidades de financiamento externo para executar o Orçamento de Estado de 2010 dentro das metas impostas pela União Europeia.

Na última semana, assistimos a um conjunto de notícias sobre a economia portuguesa, que pode deixar, o mais calmo, analista financeiro, à beira de um ataque de nervos. O Ministro das Finanças começou por anunciar que iria cumprir ou melhorar o número do défice previsto no Orçamento de Estado, o Ministro das Obras públicas adiou a construção do TGV para o Estado não absorver todo o crédito bancário do país, a venda da nossa dívida no exterior foi anunciada pela comunicação social da seguinte forma - “juros recorde na venda da dívida portuguesa”, “baixam os juros na venda da dívida portuguesa”, “FMI prepara-se para entrar Portugal” e “FMI nega intervenção na economia português”.

Mas infelizmente este frenesim mediático não terminou. No final da semana, o Ministro das Finanças, contrariando totalmente o que tinha dito antes, referiu não saber se a receita será suficiente para cobrir o défice e, irresponsavelmente, alguns jornais anunciaram que o 14º mês de salário provavelmente não seria pago, penalizando, assim, o consumo interno das famílias, e assustando os restantes agentes económicos na sua vontade de investimento.

Como tudo isso já não fosse suficientemente mau, a recente troca agressiva de declarações de dirigentes do PS e do PSD, como se estivessem numa brincadeira de crianças, põe em risco a aprovação do Orçamento de Estado de 2011 e a continuação do actual Governo em funções. Ora a confiança na informação que nos é disponibilizada é fundamental para qualquer cidadão ou empresa poder planificar todas as suas acções. Sem sabermos que impostos vamos pagar, que serviços do Estado existirão para nos servir, qual o nível de acesso ao crédito bancário ou até que investimentos o Governo irá realizar no próximo ano, nenhum empresário terá confiança para investir na nossa terra.

Se existiu, na história recente de Portugal, momento em que o bom-senso e o sentido de bem comum foram convocados com mais intensidade, é este mesmo o que vivemos. Caso os políticos portugueses não cumpram estes princípios básicos, Portugal corre o sério risco de ter de reescrever a sua história. A negro!

quarta-feira, setembro 22, 2010

UMA QUESTÃO DE TEMPO

À porta de um jantar, a líder do PSD/Açores afirmou que a “JSD não tem rigorosamente nada a ver com o PSD”. Berta Cabral, para além do evidente exercício de negação que Freud tão bem explica, “disse”, não só aos jovens do seu partido, como aos seniores, aos eleitores social-democratas e aos açorianos em geral, que a JSD, hoje, como Francisco Álvares, António Silveira, Rui Melo e todos quantos, há meses, perderam as eleições autárquicas, não podem olhar para a sua ainda líder como os marinheiros olham para o comandante do navio em dificuldades, certos de que ele será o último a abandoná-lo…
Ao fugir das consequências políticas de um problema que, sendo incómodo, não era particularmente difícil, Berta Cabral deu de si própria a dimensão que a maioria do eleitorado há muito pressentia e, por isso, mesmo, mais não lhe tem consentido do que a dimensão local de que não consegue sair.
Ao demitir-se de assumir, publicamente, o papel liderante que lhe era exigido, e de, com isso, mostrar que manda mesmo no PSD, que o partido é, também, a JSD, e que bem se podiam desenganar os que sussurram que nem consegue pôr em ordem a sua própria “casa”, Berta Cabral voltou a ensaiar aquela espécie de “hara-kiri” político da noite das Autárquicas e deixou os seus com a certeza de que não pode contar com ela para coisa nenhuma.
Com estas declarações a “líder” do PSD foi clara num aspecto, embora, evidentemente, sem o dizer, como é seu timbre: não vai mexer uma palha para resolver o problema da JSD, que aquilo é só chatices, que não está para ali para resolver birras de rapazes, que era só o que faltava!
E que bem podem continuar a desdobrar-se em conferências de imprensa, invocar a filiação partidária, demonstrarem cientificamente que a JSD é do PSD há mais anos do que eles têm de idade, recorrerem a Lisboa, queixarem-se ao Ministério Público, tudo o que quiserem, que nada disso terá qualquer validade perante a sentença, sem direito a recurso, ditada por quem disse que o congresso escolhera, estava escolhido, mas, logo a seguir, que não tinha nada a ver com aquilo tudo!
No fundo, nada de novo, vindo de quem parece não ter tido tantas responsabilidades nesta Região, com as conhecidas pesadas heranças deixadas a quem veio a seguir.
O mesmo vai acontecer no PSD. É também uma questão de tempo…

domingo, setembro 19, 2010

Mau Sinal...


Tenho salientado que a actual crise, que se repercute no nosso país, tem contornos diferentes de todas as outras que conhecemos,pelo que as receitas tradicionais macroeconómicas para combater a crise deveriam ser aperfeiçoadas e complementadas por outras ao nível da reestruturação do sistema financeiro, tal como alertaram os maiores especialistas mundiais na matéria, como Krugman ou Stiglitz. Estes chamaram a atenção para a possibilidade de um ciclo económico em W se os governos ocidentais não aplicassem as medidas certas para curar a economia dos seus verdadeiros problemas - “Esta teoria pressupõe que, após a queda abruta que tivemos em 2009, 2010 e 2011 sejam anos de uma tímida recuperação, logo seguida, em 2012 por um crash económico ainda maior.” O facto é que estes alertas foram feitos no final de 2008 e nada foi feito para contrariar essa possibilidade, à excepção da tímida reforma caseira do sistema financeiro realizada por Obama.


A economia mundial tem evoluído conforme aquelas piores previsões: para já, recessão em 2009 e tímida recuperação em 2010. A maioria dos Estados aplicou a receita de aumento do investimento público para promover o crescimento económico (opção certa, parece-me), mas sem proceder à limpeza necessária do sistema bancário e sem obstruir os chamados produtos tóxicos e atalhar a acção mais que duvidosa das agências de rating. As contas públicas e a exequibilidade e resultados do investimento público foram recolocados, assim, à mercê dos golpes especulativos, da notícia jornaleira, da intriga dos Estados, dos interesses de empresas e até de partidos políticos oportunistas numa manipulação depredadora constante. Hoje, não sabemos bem e no que e em quem devemos acreditar.

Em Portugal, o combate à crise, inicialmente, foi bem feito através do aumento do investimento público, do fomento das exportações de base tecnológica, da redução da balança de pagamentos através da aposta nas energias renováveis, da modernização das indústrias tradicionais como a têxtil e do calçado, com o plano de obras escolares e apostando em grandes obras públicas estruturantes como o novo aeroporto de Lisboa e o Transporte de Alta Velocidade TGV. Estes investimentos começaram a ter efeitos nos indicadores macroeconómicos. Mas, como há dúvidas quanto ao nosso endividamento externo e credibilidade das nossas contas públicas, bem como à estabilidade política, essas incertezas têm um autêntico efeito guilhotina sobre o crescimento.


O adiamento de um troço do TGV, anunciado recentemente, não veio melhorar as coisas. Se o TGV é fundamental para o crescimento do país (e é, certamente), deve ser mantido, se não o é já devia ter sido adiado há mais tempo. Na verdade, estamos a dar o pior sinal aos agentes económicos: de desistência ou de insegurança e desnorte quanto à acção governativa e quanto à solidez das contas públicas, tanto mais que a maioria dessas despesas estavam asseguradas por financiamentos comunitários. A aposta em investimentos públicos reprodutivos deve ser mantida a todo o custo. Se retirarmos os incentivos à economia, e por isso entrarmos em ciclo recessivo, então é que não existirão meios do Estado suficientes para inverter a marcha. Nesta altura, então, teremos, verdadeiramente, uma crise em W, com consequências desastrosas para a economia portuguesa que levarão décadas a recuperar.

terça-feira, setembro 14, 2010

Olívias




Entre as trincheiras de uma guerra aberta, onde até acusações de “falsificação de assinaturas” e de outros tipos, a avaliar pelas notícias, parece ter havido, a líder do PSD/Açores escolheu o tema das políticas de juventude para discursar à plateia.
Entre uma e outra palavra de circunstância – sem uma única proposta – não deixou de ser irónico a escolha do tema – naquele local, de onde emanou durante os três dias de congresso, um fumo, que não foi branco e um odor, que também não pareceu muito fresco…
Apesar disso, ou disto, não podemos ficar indiferentes ao facto de, no rescaldo da grande noite de Sábado, em congresso – depois de eleitas as Sete Maravilhas de Portugal num espectáculo a que a autarca assistiu – não ter saído da sua boca uma única palavra agradável em relação à conquista dos Açores.
Terão ficado “sentidos” os jovens companheiros que, por certo, se regozijaram com a vitória da ilha montanha? Supomos que sim…
Mas, a autarca já tinha feito o seu papel. A líder contradisse-a. Aliás, a bem da verdade se diga, que uma e outra andam quase sempre às “turras”.
A autarca faz o que a líder condena. A autarca “dança balança”, viaja por meio mundo para receber prémios, distribuir sorrisos, abraços e beijos, enquanto a líder fala de despesismo e de mundos cor-de-rosa. Achará a líder que a autarca vive num mundo cor-de-rosa?
A autarca e a líder deviam resolver esse problema, que torna já confuso o exercício dos seus cargos. Ora a autarca viaja, ora a líder crítica.
A autarca, por exemplo, não tem um Plano de Prevenção Municipal contra as Toxicodependências, mas a líder defende novas políticas de combate às dependências. A autarca não tem um plano de habitação para casais jovens, mas a líder defende mais e melhor habitação jovem. A autarca mantém o Campo de São Francisco verão atrás de verão para os jovens desta cidade. A líder crítica a ausência de políticas de juventude.
À autarca coube o papel da declaração de Sábado à noite, congratulou-se com a vitória das Sete Cidades. A líder a avaliar pelo que disse e não disse no Domingo deve ter brigado com a autarca.
Podíamos continuar, é claro, mas não vale a pena. A autarca e a líder com seis horas de trabalho, cada uma, mostram cansaço, algum desconforto e muita ansiedade. É a vida, diz-se na gíria. E é mesmo.

Não deixa, porém, de ser muito estranho que a autarca e a líder não se entendam. Afinal bastava apenas um “sms” para que uma e outra, sentadas à mesma mesa do almoço definissem uma estratégia comum. “Viva os Açores!” – podiam ter dito as duas, que não morria ninguém…

segunda-feira, setembro 13, 2010

Estado da Nação

Praticamente acabada a silly season, assistimos progressivamente ao voltar à normalidade da discussão política séria em Portugal. Durante os meses de Julho e Agosto, os protagonistas políticos, geralmente, aumentam a sua agressividade discursiva, no sentido de chamar a atenção do público que quer aproveitar esta época para, trabalhando ou não, descansar do clima de permanente guerrilha partidária que costuma dominar este país.


No continente a preocupação com o local de férias dos líderes partidários, Marcelo Rebelo de Sousa incluído foi acompanhada pelo pessimismo habitual sobre o futuro da economia portuguesa. Para todos os espectadores que não conseguiram desligar a televisão a tempo, os Velhos do Restelo, que não foram de férias, anunciaram e informaram, estridentemente, que o Estado Social está falido, que o Serviço Nacional de Saúde e a Educação Publica não deveriam ser para todos, que a despesa do Estado está fora de controlo, que não seria possível emitir dívida portuguesa no mercado internacional, que o Governo da República do PS estava irremediavelmente abaixo do PSD nas intenções de voto, que o Partido Socialista estava envolvido no processo Casa Pia, que a Justiça em Portugal estava partidarizada, que o Queiroz estava a ser perseguido pelo Governo, etc. Foi tanta a desgraça anunciada, que pensei seriamente, que passar estes dois meses nos Açores sem ver a comunicação social nacional, seria uma boa ideia, para não ficar desmoralizado.


Engano meu. Por cá, a situação não foi muito melhor. Ao que parece, os velhos do Restelo residentes anunciaram que o turismo seria uma catástrofe nos meses de Julho e Agosto, que o serviço de transporte marítimo de passageiros inter-ilhas não iria funcionar, que o desemprego iria subir, que nada seria feito para estimular a procura turística dos Açores, no estrangeiro e no continente, que as tarifas promocionais a 100 euros, prometidas pelo Governo dos Açores, eram impossíveis de realizar, que o rendimento social de inserção nunca seria fiscalizado, que existiam poucas obras públicas nos Açores e que as autarquias açorianas não iriam conseguir pagar aos seus fornecedores.

Terminado este período caricato, verifiquei com algum espanto, que os velhos do Restelo se tinham enganado. Ao que parece ser velho do Restelo é mesmo isso: “(…) simboliza os pessimistas, os conservadores e os reaccionários que não acreditavam no sucesso(…)” ou feitos de Portugal.

Afinal, a OCDE considera que a reforma da Segurança Social é exemplo a seguir na Europa, que o Serviço Nacional de Saúde está entre os 15 melhores do mundo, que Portugal foi o país que mais subiu no ranking de educação da União Europeia, que apesar das debilidades de conjuntura económica, o desemprego tende a estabilizar, a emissão da divida portuguesa foi um verdadeiro sucesso, que o PS lidera as intenções de voto nas últimas sondagens, que a justiça tem mão de ferro contra os alegados abusadores de crianças e que o Queirós não percebe mesmo nada de futebol.


Nos Açores, o número de turistas subiu nestes dois meses, o transporte marítimo de passageiros funcionou praticamente sem crítica conhecida, o desemprego, apesar de ser sempre preocupante, desceu para o nível mais baixo do país, a Câmara do Comércio dos Açores, conjuntamente com o sector da hotelaria e apoiados pelo Governo dos Açores anunciou, novos pacotes turísticos mais atractivos para se viajar para a nossa terra, foram anunciadas novas regras para fiscalização e atribuição do rendimento social de inserção que começam a ser implementadas para a semana e o Governo da Republica anunciou que enviou para a aprovação de Bruxelas as novas tarifas promocionais de 100 euros.

Mas, desengane-se quem pensa que eu acho que os Velhos do Restelo não acertam uma. Acertam, sim senhores, e em cheio: a autarquia de Ponta Delgada não paga a tempo e horas aos seus fornecedores. Pois não. E agora? Despe e Siga?